amores expresos

quarta-feira, 19 de setembro de 2007

O DE SEMPRE E O ETERNO





18 d
PARTE 1
Hoje decidi ir ao Metropolitan. O que realmente me movia era a sessão do Egito. O Egito sempre me causou um impacto indescritível. Desde pequeno sofro essa sensação que se apossa e me assombra. Conheci uma senhora egípcia que disse que se um dia eu quisesse visitar seu país teria um lugar me aguardando, casa e comida. Eu lhe expliquei, no meu ridículo inglês (que na época era o mesmo de hoje), que se um dia eu pusesse meus pés nessas terras eu enlouquecia, ou talvez, mais especificamente, eu dissolveria. Perderia minha concepção de indivíduo. Disse que isso não era uma metáfora ou figura de linguagem, era fato. Uma dessas certezas que carregamos desde muito crianças. Ela me confessou que quando jovem visitou um templo, não era dos mais famosos, numa excursão com a escola. E que recentemente voltou ao local. Disse que o impacto foi tão grande que ela me entende. Durante toda a sua vida ela sonhava com esse lugar. Eu já sonhei com inúmeros locais dessa terra distante e ao mesmo tempo presente. A familiaridade que o Egito me traz nada tem a ver com a que sinto aqui. É uma familiaridade interna, não mística, genética.Tive uma professora no ginásio, Dona Adail, que nos descrevia de tal forma esse sítio, essa cultura e seus mitos, que isso ecoava ainda mais forte nessa minha sensação abstrata. Mas, antes de chegar ao museu tinha chão e é disso que vou tratar nessa primeira parte.
Acordei muito cedo, era noite ainda, fiquei adiantando minhas coisas e depois voltei a dormir. Então já eram dez horas, fiz uma rápida postagem no blog e saí. No ônibus estava o Pirata Protagonista, aquele de rabo de cavalo que conversa com todos. Percebi que ele é quase um líder comunitário, alguém que se preocupa e procura ajudar seus conterrâneos latinos. Vi ele dando uma dura em um que está se desviando do caminho, fraquejando. Ele parece uma figura realmente incrível. Outro dia sorriu orgulhoso para mim, com ar de aprovação, porque cedi meu lugar para uma senhora. Gostaria de trocar umas palavras com ele, mas não quero perturbar. Sempre que viajo faço amigos. Amigos que ficam para sempre, embora eles saibam e respeitem o fato de eu não responder ou trocar emails. Foi assim em várias partes por onde passei. Não aqui. Aqui não há tempo nem espaço. Nada deve fugir ao roteiro, afinal a velha York é um filme. Aqui, até o céu é made in China. Vocês devem ter reparado em uma imagem que mandei com algo escrito no céu. Não dava para ler tudo, mas a última palavra era Taiwan. Eu já chego lá. Peguei o velho trem em na Smith linha F. É curioso que o trem, esse mesmo, só é considerado metrô quando mergulha nas profundezas da terra, sete palmos eu creio. Entendem? O mesmo trem, é trem e metrô. Nos primeiros dias alguém me disse: “Aqui no Brooklyn não há metrô, só trem”. É isso. Só que sobre os mesmos trilhos esse trem quando entra na terra vira metrô. Acho que ao invés de explicar estou confundindo. Enfim, é isso. Smith, Carrol, Bergen, Jay & Borough Hall, York, East Broadway, Delancey, Lower East Side 2 av, Lafayette, W 4 St, 14 St, 23 St, 34 St, 42, 47-50, 57 Street. Desci. Caminhava até o Central Park quando percebo os tais anúncios? Surgirem no céu. Eles surgem como nuvens de pixel. E pixel a pixel vão desenhando palavras. Talvez vocês saibam o quê é isso, ou como é feito. Para mim a impressão é perturbadora. Acho que estou meio perturbado hoje. Vamos ao parque. O Central Park cheira a esterco e mijo por causa dos belos cavalos e suas charretes pomposas. Resolvi caminhar um pouco e observar as pessoas, o parque eu já tinha visto e mesmo antes disso eu já tinha visto. Há muitas jovens senhoras e senhoritas almoçando saladas em baldes tal qual os cavalos em suas charretes. Todos se hidratam com água, cuja embalagem diz 100% natural. Eu quero saber o que tem no resto, pois se só 100% é natural do que é feito o resto? ( Brincadeira com minhas porcentagens caso alguém tenha pego o blog andando). Ou com sucos. Aqui todo suco é cítrico e quando não é cítrico é acido do mesmo jeito. Outras se deitam na grama com seus curtos vestidos e calçolas rendadas ( vide foto). Alguns correm, muitos dormem, outros lêem. Tem zoológico, mas nem é preciso entrar porque tem patinho e outras espécies soltas por toda a parte do parque. Aqui tudo é filme em Never York, ou The End. Depois de tirar umas fotos continuei subindo, mas agora a pé.59, 60, 61, 62, 63, 64, 65, 66, 67, na 68 decidi parar para descansar um pouco e fumar outro cigarro. Comprei um suquinho da mais ácida maçã e me sentei em um banquinho de madeira. Ao repousar o frasco de meu refresco no banco, deparei com a seguinte e diminuta plaqueta: “In Memory of Joseph Slifka”. Será que aqui todo banco é dedicado à memória de alguém? E como sou mesmo de Brooklyn Back agradeci o colinho amigo. Segui, 69, 70, 71, 72, 73, 74, 75, 76, 77 e lá estava o belo museu.
(fim da primeira parte)

9 Comentários:

Blogger Paula Braun disse...

Querido Lourenço!
Bom te ler. Queria fumar no telhado e tomar o plasma amarelado daí. Mas tomo um bom café aqui e fumo em casa mesmo, na falta de um telhado serve o sofá.
Nunca fui pra NY.
E adoro chapéus.
E esquilos, só os vi uma vez.
Te espero aqui pra um café e papos regados a prozac. (Vc e Lu) E bolo de chocolate no dente.
Beijo grande.

19 de setembro de 2007 às 08:08  
Blogger Unknown disse...

eu voue scutar uma canção da madonna em sua homenagem (optei pela canção i'm going bananas), NY é terra dela, tá vc n gosta de madonna mas eu gosto, e vc tb não vai lembrar de ter me visto na gibiteca ams ue lembro, é isso q importa né, então boa viagem, continue psotando, (quem diria vc num blog! ainda abriu os comentários ahnnnnnn... :p) escreva bastante e tal que a gente lê e paga-pau com certeza.

19 de setembro de 2007 às 09:24  
Blogger wilma disse...

Oie
Tõ lendo já faz um tempo, mas só comentando agora hahah Luzemar me deu bronca ("bicho preguiça!")porque eu justifiquei que não comentava porque os textos eram muito(s) grandes hahahah

conheci uma senhora egipcia qdo tinha 9 anos, o marido dela era judeu - Ela tinha uns olhos - era bem erugada já, mas os olhos e aquele sorrisinho - não sei o que significa ate hoje (meio Gioconda)

a foto do parque da moça põe uma tag: -up skirt- e depois verifica os ips dos pcs dos japas xD hahah

se eu visse um céu com nuvens de pixel com certeza ficaria perturbada - talvez vomitasse, hoje indo pro trabalho me deu um enjoo terrivel qdo eu vi uma nuvem de executivos engravatados (daqueles de Banco) e vinha na minha cabeça "como alguem se presta pra isso?"
eu tentava falar a frase e só conseguia repetir como?...como?..

tô melhor agora aqui tão editando o festival alemão estou ouvindo Brahms, um dos Bês fodais \o/\o/

Beijo volta logo né!?

19 de setembro de 2007 às 14:04  
Blogger anjobaldio disse...

Caro Mutarelli: muito bom teu blog. Tenho algumas de tuas maravilhosas revistas. Se você tiver um tempo dá uma olhada nos meus desenhos/pinturas. Um forte abraço.

19 de setembro de 2007 às 19:26  
Blogger Ive Môco disse...

deve ser horrível se localizar em NY, nunca fui, nem tive vontade louca de ir, mas essas ruas com nº em vez de nome desanimam. já me perco em volta redonda, imagina em ny

esperemos a segunda parte =)

20 de setembro de 2007 às 20:38  
Blogger C. A. C. disse...

oi Lou, eu te leio e parece que tô te ouvindo, falando e rindo riso ora forte ora de gueixa... saudades de vc do humor ácido e do jeito simples e sincero de falar e falar das coisas, de esquilos à metafísica. hoje encontrarei célia e érica, está td bem com a amizade novamente...estou aguardando o novo livro com gde expectativa! ah, também estou "aguardando" um baby aqui, a Lu deve ter te contado... beijos grandes!
cris

22 de setembro de 2007 às 08:32  
Blogger SM disse...

Cara, esse teu blog tá um barato! Estou "cascando o bico", como dizemos aqui na cidade interiorana de Santo André.

Beijo

Simone Maia
(sim, até eu tenho um blog!)

22 de setembro de 2007 às 09:40  
Blogger Mari disse...

Cadê? Cadê?
Lourençooooooooooo

23 de setembro de 2007 às 07:23  
Blogger Unknown disse...

Olá meu amigo, desculpe a minha ausencia de amigo mas estou usando o blog da Cláudia porque nem orkut tenho.Gostei muito das fotos algumas muito lúdicas e gostosas como a bunda que parecia ser a do cheiro do ralo. Legal que suas inspirações estão fluindo, e quem sabe um personagem seja manquitola e o cabeção se apaixonasse pelo seus lorax e fosse tomar chá com o hobbit...Abços Claudio Gambeiro

24 de setembro de 2007 às 08:15  

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